No que refere-se a quantidade, o que podemos produzir [ou desproduzir, pois toda descontrução resulta em uma nova construção ] por nossos próprios méritos e meios chega a beirar o imensurável, aquilo que embora possa ser estimado e suposto não tem uma numeração exata em termos absoluto. O fanzineiro transita nesse espaço. Transita nesse e em muitos outros, pois a filosofia Do it yourself não é um limite, um campo onde as ações da livre iniciativa de pessoas que por si só e por seus meios e contatos põe em prática idéias e ideais, desenvolvem a si próprias enquanto fazem o que propõe-se a fazer e fazendo assim abrem espaço para que outros o façam.
O fanzineiro, este dito cujo que produz aquilo que gosta a partir do que gosta, que explora as possibilidades da caixa preta do Flusser, assim assumindo uma certa camaradagem com um texto teórico onde em resumo entende-se que uma pessoa pode interagir com determinado aparato de três diferentes modos :
- 1 Usando o Aparato conforme as capacidades e possibilidades para o qual foi criado dentro dos limites oferecidos pelo aparato.
- 2 Entendendo o funcionamento do aparato e a partir daí explorar sua capacidade e suas possibilidades de forma um tanto quanto mais eficaz.
- 3 entender ou não o funcinamento do aparato, porém modifica-lo e partir daí criar um aparato outro com possibilidades outras e então a brincadeira começa.
É lógico que embora use-se tanto a expressão " infinitas possibilidades " sabe-se que estas não são infinitas, são múltiplas, pois todo meio tem a sua limitação. Flusser aborda o que acima foi mencionado e muito mais em Filosofia da caixa preta , inclusive a limitação do aparato tecnológico. Embora o texto volte-se para a fotografia e o cinema, para o fanzineiro este texto serve perfeitamente já que este lida em alguns instantes e na maior parte do tempo com imagem fotocopiadas.
Voltando ao tema proposto no titulo da postagem, notei que o fanzine - contração das palvras Fanatic e Magazine que significa aquilo que é feito pelo fã e blá blá blá - é primeiro um resultado de uma interatividade com uma obra que inicialmente podia ser fechada, ou seja, sua significação já estava dada pela sua existência e não precisava da ação externa de outro para que de fato tornar-se completa. O fã interage de uma forma que prolonga esse fechamento e o inclui dentro do meio em que ele já está inserido, o fato de gostar de determinada Banda é uma coisa, gostar, adquirir as produções da banda, ir a todos os shows é uma outra vivência, porém gostar, saber como funciona e a partir disso interagir com o universo construído por essa banda seja difundindo essa experincias e outras relacionadas ou recriando-se enquanto sujeito protagonista é uma terceira possibilidade.
O fã faz coisas, o fã zune - parafraseando Edgard Guimarães - e usualmente é percebido ou ouvido, mas para ele não importa ser ou não ouvido, pois se o que ele faz usando de sua liberdade de interagir com algo tornar-se uma coisa outra, diferente daquela da qual está interagindo, ele torna-se uma outra coisa que não é é esse fã sobre o qual estamos falando. o Nome fã na verdade não me é agradável para identificar estes rostos muitas vezes escondidos na multidão e em meio a rede de informações, Fanzineiro por outro lado identifica um fão que produz, e abre possibilidades de observar e entender outras relações - se há algo a ser entendido , às vezes basta entregar-se ao delírio cotidiano - daquele que produz, e do que produz.
Se o Fanzineiro parte de um território que não é o seu e não se coloca como autor - coisa de Foulcalt , e acredite não é texto cabeça demais não ! Leia que vale a pena ! - pois aquilo que ele está veiculando não partiu dele mas partiu por ele, qual o fechamento dado? Resenhas sobre publicações fecham-se em si próprias ou induzem a um contato com as publicações resenhadas?
Analizando que o Fanzineiro pode colocar-se numa função-autor - o meu caso e o de outros colegas - e embora a idealização de conteúdo venha de suas subjetivides, é óbvio e evidente que esta subjetividade não provém de um campo de discursividade, vem dee experiências e vivências que não subjeções minhas ou de meus colegas, porque quando se tem cntato com o material resultante não há efetivamente um autor, há o exercer de uma função autor, que é dividida com o leitor.
O fanzineiro transita este meio e sente-se cnfortável, sinto-me confortável em trabalhar em coisas que não me pretencem e não pertencem a ninguém pois todods tem parte e e nelas existem o exercer da inteligência coletiva.
Embora o fanzine originalmente provenha do exercicio sobre suportes fisícos, papel, plástico, tecidos e outros materiais não é a propriedade do suporte que o define, tampouco a sua definição venha a ser do fato dele ser ou não dedicado à algo assim como o fã é - revistas sobre celebridades não são fanzines - ou do fato de ser xerocopiado. A definição do que é um Fanzine é um chover no molhado é como análisar se algo é ou não uma obra de arte, visto que se aceitarmos que tudo é arte então não teremos a necessidade de a arte existir, agora afirmar que algumas coisas são e outras não implica em relações a serem discutidas que geralmente tendem a enriquecer e a contribuir com o meio pelo qual veiculou-se.
No fanzine encontra-se virtualizado possibilidades, potencialidades do fanzineiro atingir um estado outro, se ao fanzineiro é atribuído a injusta alcunha de amador, já está virtualmente implicito neste meio a possibilidde de profissionalização, mas aí trazemos a questão: E quanto a entusiastas do meio, cujo conhecimento segue além da prática, artistas que habitam o meio da livre iniciativa para não renderem-se ao modelo instaurado pelo capital ? Não são amadores e o nível qualitativo do que desenvolvem botam no chinelo publicações tidas como profissionais, e neles vê-se claramente a realização das potencialidades antes mencionadas.
Se o que é virtual encontra-se presente nesse material, e percebemos que virtual não é necessariamente o mesmo que digital, mas aquilo que está em estado de Devir. o que pode vir a ser, muitos fanzineiros usam justamente desse estado de devir para alimentarem seus trabalhos, " poderia vir a ser uma revista periódica publicada pela editora tal e com a colaboração do desenhista tal, roteirista X e render muita grana para esse autor Y , mas não é" - porém poderia ser - e em cima dessa constatação as coisas adquirem uma configuração diferente daquelas às quais estamos acostumados.
Essa configuração que pressupõe a existência de técnicas é justamente a presença de um estado de percepção, o contato com coisas em estado de devir proporcionam sensações e percepçoes diferentes daquelas em estado atualizado, realizado, presente, não que nestas não haja possibiliddes virtualizadas, mas pelo fato do tratamento dado mascararem essas possibilidades. O fato de perceber a técnica, compreendê-la e dela fazer uso já é um estado de percepção.
Dentro do fanzine, quase sempre estas possibilidades permanecem latentes, o estado de percepção do fanzineiro não termina nele próprio, o material resultante é como uma receita, um guia para caminharmos no mesmo sentido e quiçá experimentarmos de experiências similares, embora seja um território sem mapeamento, há sempre espaços já percorridos e com indicações.
Cada Fanzine é um documento de satisfações de desejos ou de condições reais intrinsecas ao assunto em questão ... e como as minhas costas estão doendo e o efeito do que quer que seja que eu tenha experimentado já p\ssou, não vou colocar por ora link do Pierre Lévy, do Deleuze , Goethe, Umberto Eco, Walter Benjamin , Gazy Andraus, Calazans e outros tantos, mas com certeza se você digitar esses nomes numa busca você encontrará textos muito massa pra enriquecer tua massa encefálica com informações utéis e que te aquiescerá quando estiveres só assando o peru de natal que se aproxima e é nisso que todo mundo começa a pensar...aqui em casa já se fala nisso... eita!
P.S, o E.U.T - Entreato Utópico Tardio - meu zine em formato de obra aberta de 2° grau e talvez de 3º dependendo de você - que custa 10 Reais - poderá ser adquirido entrando em contato comigo pelo sacrawendell@gmail.com .
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